Nos últimos anos, em decorrência dos desafios advindos das mudanças climáticas e da necessidade de fontes de energia mais sustentáveis, a transição energética ganhou certa evidência. Mas, na verdade, ainda falamos menos sobre o assunto do que o necessário.
Lideranças globais e estudiosos têm chamado a atenção de governos, instituições e sociedade em geral para a realidade que boa parte das pessoas parece ignorar: o planeta Terra é um só. Nesse sentido, a transição energética não é opcional, mas um imperativo.
Diante da importância do tema, este artigo apresenta o conceito de transição energética. Além disso, aborda benefícios, desafios, estratégias e dados que demonstram a relevância da pauta. Também discutimos como a iniciativa privada e consumidores podem (e devem) contribuir.
O que é transição energética?
A transição energética é o processo de substituir as fontes de energia fósseis — tais como carvão, petróleo e gás natural – por fontes de energia renováveis e menos poluentes: solar, eólica, biomassa e hidrogênio verde, por exemplo. Essa mudança é fundamental para reduzir os impactos ambientais das atividades humanas, especialmente o aquecimento global e as mudanças climáticas.
Por que a transição energética é urgente?
Estudos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indicam que as atividades humanas já elevaram a temperatura média global em cerca de 1,1°C desde o período pré-industrial. Sem ações efetivas, esse aumento poderá ultrapassar 1,5°C até 2050, um ponto crítico que trará consequências desastrosas para o planeta, tais como o aumento do nível do mar, eventos climáticos extremos e perda de biodiversidade.
Benefícios da transição energética
- Redução de emissões de carbono: a substituição de fontes fósseis por renováveis reduz drasticamente a emissão de CO₂, principal gás responsável pelo efeito estufa.
- Geração de empregos: a implementação de tecnologias limpas cria empregos em novos setores. Um estudo da Agência Internacional de Energia (AIE) prevê que o setor de energias renováveis poderá gerar cerca de 40 milhões de empregos até 2050.
- Segurança energética: a diversificação das fontes de energia diminui a dependência de recursos limitados e importações, o que promove a autossuficiência e reduz o impacto de crises internacionais.
Principais fontes de energia renovável na transição energética
Abordamos o conceito de transição energética e entendemos o quão urgente é a pauta. Também conhecemos os benefícios de substituir as fontes de energia fósseis. Abaixo, destacamos as três principais fontes de energia renovável.
Energia solar
A energia solar, captada por paineis fotovoltaicos, é uma das fontes mais promissoras. A capacidade de geração solar cresce aproximadamente 20% ao ano globalmente. E o Brasil se destaca como um dos maiores potenciais solares do mundo.
Energia eólica
A energia eólica, que utiliza o vento para gerar eletricidade, é outra alternativa promissora. Segundo o Global Wind Energy Council (GWEC), a energia eólica poderia atender cerca de 20% da demanda global de eletricidade até 2030, com a capacidade instalada atualmente em crescimento.
Hidrogênio verde
O hidrogênio verde, produzido a partir de eletrólise usando energia renovável, é considerado o combustível do futuro. Ele é uma solução viável para setores industriais de difícil descarbonização, como o transporte pesado e a siderurgia, que representam grandes emissões de carbono. O desafio dessa fonte de energia é o alto custo.
Desafios da transição energética
Apesar dos benefícios, a transição energética enfrenta desafios complexos. Alguns deles estão a seguir.
- Investimento e infraestrutura: a infraestrutura necessária para suportar fontes renováveis exige altos investimentos. Estima-se que sejam necessários cerca de US$ 4 trilhões por ano até 2030 para alcançar as metas climáticas globais.
- Armazenamento e intermitência: fontes como solar e eólica dependem de condições climáticas, o que torna o armazenamento de energia uma questão central. A tecnologia de baterias ainda está em desenvolvimento e representa um custo adicional significativo.
- Regulação e políticas públicas: a implementação de políticas de incentivo é fundamental para o avanço das fontes renováveis. Países com políticas de subsídios e incentivos fiscais avançam mais rapidamente na transição energética, mas isso depende do contexto e da vontade política de cada região.
- Desafios sociais: a mudança de empregos e as possíveis repercussões econômicas para comunidades dependentes de fontes fósseis são questões importantes. A transição deve ser justa e considerar o impacto sobre trabalhadores e comunidades.
Sim, é possível: casos para ficar de olho
- China: embora seja o maior emissor de CO₂, a China tem investido pesadamente em energia solar e eólica. Em 2021, o país foi responsável por cerca de 35% da capacidade global instalada de energia solar, segundo a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA). De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA), o país deve 60% de toda energia renovável produzida no mundo até 2030.
- Europa: a União Europeia (UE) é um exemplo de liderança na transição energética. Países como Alemanha e Dinamarca alcançaram uma proporção significativa de geração de energia a partir de fontes renováveis. Em 2022, a energia renovável foi responsável por quase 40% do total de eletricidade gerada na UE.
- Brasil: o Brasil tem uma matriz energética relativamente limpa, com cerca de 84% da eletricidade proveniente de fontes renováveis, principalmente hidrelétricas. Contudo, a dependência da energia hídrica ainda é um desafio, considerando os riscos de escassez de água.
Soluções e inovações tecnológicas
A transição energética é impulsionada pelo desenvolvimento tecnológico, que permite maior eficiência e integração de fontes renováveis.
- Tecnologias de armazenamento: o desenvolvimento de baterias de lítio e outras tecnologias de armazenamento, como as baterias de fluxo e hidrogênio, é importante para gerenciar a intermitência das fontes renováveis.
- Redes inteligentes: as redes elétricas inteligentes (smart grids) permitem a integração de fontes renováveis e otimizam o consumo de energia. Elas também facilitam a descentralização da geração, o que aumenta a resiliência do sistema elétrico.
- IoT: a aplicação de Internet das Coisas no monitoramento e gestão de redes elétricas aumenta a eficiência do consumo e reduz desperdícios.
Como o setor privado pode contribuir?
A transição energética é pauta de política pública. E infelizmente, nesse caso, ainda deixamos a desejar. Diante desse cenário, como empresas e investidores podem contribuir? Muitas instituições têm investido em fontes renováveis próprias ou comprando créditos de carbono para compensar suas emissões.
Empresas como a Amazon e a Microsoft estabeleceram metas de zerar suas emissões líquidas até 2050. Ademais, a Tesla e outras empresas do setor automotivo, por exemplo, são pioneiras na eletrificação do transporte.
O papel do consumidor na transição energética
Quando o assunto é transição energética, todos têm responsabilidade, inclusive o consumidor. A escolha por produtos e serviços sustentáveis pressiona o mercado a adotar práticas menos poluentes. Opções como veículos elétricos, sistemas de aquecimento solar e contratos de energia verde estão cada vez mais comuns e devem se tornar mais acessíveis com o tempo.
Conclusão: a urgência da transição energética
A transição energética é um caminho urgente para garantir a sustentabilidade do planeta, mas é um processo que exige a colaboração de todos os setores da sociedade. Para que essa transição ocorra de fato, é necessário que governos, empresas e indivíduos tomem decisões conscientes e responsáveis. Cabe ressaltar, nesse contexto, o papel basilar de políticas públicas efetivas.
Apesar dos desafios, as oportunidades oferecidas pela transição energética são promissoras. A possibilidade de gerar milhões de novos empregos em setores como energia solar, eólica e de hidrogênio verde, além de garantir maior segurança energética, pode transformar economias e promover um crescimento sustentável.
Em suma, falar sobre a transição energética e implementar ações práticas são medidas essenciais para proteger o meio ambiente e assegurar qualidade de vida para todos. A mudança para uma matriz energética mais sustentável exige comprometimento, mas os benefícios são claros e permitem o vislumbre de um novo futuro.
A Agenda ESG evidencia ainda mais a urgência da transição energética. Mas o que a sigla tem a ver com inclusão social? Descubra.