Vivemos em um país de proporções continentais. Continental também é a desigualdade. No Brasil, a renda dos 10% mais ricos é 14 vezes superior à renda dos 40% mais pobres, de acordo com o IBGE. Por isso é tão importante falar sobre inclusão social. E ESG tem tudo a ver com isso.
Embora a ideia de que empresas devem considerar fatores além do lucro financeiro não seja nova, a sigla ESG (Ambiental, Social e Governança em português), como conhecemos hoje, ganhou destaque a partir dos anos 2000. E, desde então, desigualdade e inclusão social são preocupações constantes.
Entretanto, um dos componentes menos compreendidos do ESG é a efetiva relação da sigla com a inclusão social. Este artigo explora como essas duas dimensões estão interligadas e por que a inclusão social é essencial para a sustentabilidade corporativa.
A sigla se refere, inicialmente, a um conjunto de critérios usados para medir o impacto ambiental, social e de governança de uma empresa. Esses critérios influenciam a imagem e reputação da instituição e, além disso, têm um impacto direto na performance financeira.
Empresas que adotam práticas ESG robustas tendem a ter vantagens competitivas, pois atraem investidores, talentos e clientes comprometidos com a sustentabilidade. Aliás, não há como negar que o conceito de ESG evoluiu ao longo dos anos: de preocupação marginal tornou-se central nas decisões estratégicas de instituições ao redor do mundo.
Atualmente, investidores e consumidores exigem mais transparência e responsabilidade das empresas em relação às práticas ambientais, sociais e de governança. Isso impulsiona a adoção do ESG em todos os setores da economia.
A inclusão social é um componente central do “S” no ESG. Ela se refere à integração equitativa de todos os indivíduos, independentemente de raça, gênero, orientação sexual, idade, deficiência ou status socioeconômico, na sociedade e no local de trabalho.
Empresas que promovem a inclusão social cumprem obrigações éticas e criam ambientes de trabalho mais diversificados, inovadores e produtivos. Sendo assim, trata-se de mais do que esforço para cumprir determinadas exigências legais, mas uma tomada de posição genuína.
Ademais, a inclusão social dentro do ESG não se limita apenas às políticas internas de uma empresa. Ela se estende à maneira como as empresas interagem com as comunidades ao seu redor, como elas abordam questões de desigualdade social e como as operações influenciam positivamente ou negativamente o tecido social mais amplo.
Posicionar-se a favor da inclusão afeta positivamente a performance. Estudo da McKinsey & Company indica que empresas com altos níveis de diversidade e inclusão social têm 35% mais probabilidade de superar financeiramente os concorrentes financeiramente.
Certamente, a diversidade de pensamentos e experiências impulsiona a inovação e resulta em produtos e serviços que melhor atendem às necessidades do diversificado mercado global. Por exemplo, de acordo com a McKinsey, empresas com diversidade de gênero nas equipes executivas são 21% mais propensas a ter lucratividade acima da média.
Já as instituições com diversidade étnica e cultural são 33% mais propensas a superar os pares em lucratividade. Isso demonstra que a inclusão social não é só uma questão de responsabilidade corporativa, mas também uma alavanca estratégica para o sucesso empresarial.
Entendida a relação entre inclusão, ESG e performance corporativa, resta-nos explorar algumas estratégias para alavancar a inclusão social no ambiente corporativo. Fazemos isso a seguir.
Uma abordagem eficaz para incorporar a inclusão social no ESG é por meio de políticas internas que promovam a diversidade e a inclusão. Isso inclui treinamento de conscientização, políticas de recrutamento inclusivo e a criação de ambientes de trabalho acessíveis.
Por exemplo, grandes corporações têm se destacado por suas práticas de inclusão social, especialmente no que diz respeito à integração de pessoas com deficiência e outros grupos minorizados no local de trabalho.
Essas políticas devem ir além de simples declarações de missão e envolver ações concretas, tais como revisão de processos de contratação para eliminar vieses inconscientes, promoção de programas de mentoria para grupos sub-representados e estabelecimento de metas claras de diversidade em todos os níveis da organização.
Outra estratégia importante é o envolvimento ativo com comunidades locais. Isso inclui programas de educação e treinamento voltados para grupos sub-representados, parcerias com ONGs e o apoio a iniciativas que promovam a inclusão social. A Unilever, por exemplo, implementou programas de empoderamento econômico para mulheres em várias regiões do mundo.
Essas parcerias criam um ciclo virtuoso, no qual as empresas melhoram suas próprias práticas sociais e contribuem para o desenvolvimento sustentável das comunidades em que operam. Além disso, essas iniciativas fortalecem o relacionamento com stakeholders locais, o que aumenta a confiança e reputação da empresa.
As empresas também devem adotar práticas robustas de monitoramento e relatórios para medir o progresso em inclusão social. Isso melhora a transparência e ajuda a identificar áreas de melhoria e a ajustar estratégias.
Relatórios ESG que incluem métricas de inclusão social são mais completos e oferecem uma visão holística da sustentabilidade corporativa. Empresas líderes nessa área têm desenvolvido publicações anuais detalhadas que destacam seus avanços em diversidade, por exemplo.
Ademais, relatórios são um modelo de como monitorar e comunicar esforços e uma ferramenta valiosa para atrair investidores que buscam alinhar seus portfólios com práticas responsáveis e sustentáveis. Mas atenção: ESG é mais sobre o que se faz efetivamente do que o que se diz fazer.
A implementação da inclusão social como parte da agenda ESG não é isenta de desafios. Um dos principais obstáculos é a resistência cultural dentro da própria empresa. Muitas vezes, há falta de compreensão sobre o valor da inclusão social ou existem preconceitos implícitos que dificultam a implementação de políticas inclusivas.
Outro desafio significativo é a falta de recursos e know-how para implementar estratégias eficazes de inclusão social, especialmente em pequenas e médias empresas. Além disso, em mercados emergentes, as empresas enfrentam barreiras regulatórias e culturais que complicam ainda mais a adoção de práticas ESG inclusivas.
Apesar dos desafios, as oportunidades de crescimento ao integrar inclusão social no ESG são vastas. Empresas que lideram com inclusão atraem força de trabalho mais talentosa e diversa, o que resulta em inovação e competitividade. Outrossim, consumidores estão cada vez mais conscientes e exigentes quanto às práticas de inclusão das instituições.
Ademais, as organizações que se destacam por práticas de inclusão social acessam novas fontes de financiamento, tais como fundos de investimento especializados em ESG, e aproveitam incentivos governamentais destinados a promover sustentabilidade e equidade social.
É verdade que vivemos em um país extremamente desigual. Também é verdade que a intersecção entre ESG e inclusão social demonstra que práticas empresariais responsáveis e sustentáveis são, além de moralmente corretas, estratégias eficazes para alcançar o sucesso corporativo em um mercado cada vez mais competitivo e consciente.
As estratégias para promover a inclusão social dentro do ESG são fundamentais para garantir impacto positivo e duradouro. As empresas que adotam essas práticas melhoram a reputação e o desempenho financeiro e contribuem para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa.
Portanto, a inclusão social dentro do ESG não deve ser vista como uma opção, mas como uma necessidade estratégica para o futuro das organizações. Sem dúvidas, organizações inclusivas estão melhor preparadas para enfrentar desafios globais, atrair investidores e garantir um legado de impacto positivo para as futuras gerações.
Neste artigo, abordamos uma dimensão do “S” da sigla ESG. Mas você sabe do que se trata o “G”. Descubra.
Com 34 anos de carreira em jornalismo, sendo 23 deles na Rede Globo, a maior emissora do Brasil, Giuliana Morrone ficou conhecida por cobrir momentos históricos mundiais.
Formada em Jornalismo e especializada em Jornalismo Político pela Universidade de Brasília, conta também com um MBA em ESG pela PUC Rio e especialização em liderança feminina pela Harvard University.
Seu amor pela profissão começou aos 14 anos, quando conseguiu uma entrevista com a poetisa Cora Coralina para o jornal da escola, marcando o início de uma trajetória de sucesso.
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Jornalista com trajetória de mais de 30 anos na TV Globo e especialista em ESG, Giuliana Morrone ajuda negócios de todos os segmentos e tamanhos a pautar o próprio futuro.
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