A matriz energética brasileira tem características únicas e é frequentemente reconhecida pela alta participação de fontes renováveis. No entanto, quando observamos os critérios ESG, que vêm se consolidando como pilares fundamentais para a sustentabilidade corporativa e governamental, ainda identificamos desafios.
Os princípios ESG (Environmental, Social and Governance) são uma abordagem basilar para promover práticas responsáveis em todas as esferas econômicas. No setor energético, alinhar a matriz às demandas de ESG é importante para assegurar preservação ambiental, inclusão social e transparência na governança.
De olho nos critérios ESG e nas fontes de energia do Brasil, este artigo faz um panorama da matriz energética do país, aborda as lacunas e desafios e apresenta mudanças necessárias para uma transição mais sustentável.
O panorama da matriz energética brasileira
A matriz energética brasileira é frequentemente citada como um exemplo global de uso de energias renováveis. Contudo, é importante analisar como essa composição é estruturada, quais são as principais fontes de energia e os desafios que ela enfrenta para atender às demandas da sociedade contemporânea.
Uma matriz predominantemente renovável
A energia hidrelétrica é a principal fonte de eletricidade no Brasil, contribuindo com aproximadamente 56% da matriz elétrica. Além disso, fontes como biomassa, energia eólica e solar estão em expansão e somam cerca de 12% da matriz elétrica. Esse perfil é mais sustentável do que o de muitos países desenvolvidos, que ainda dependem majoritariamente de combustíveis fósseis.
Entretanto, quando consideramos a oferta interna de energia total, que inclui setores tais como transporte e indústria, a dependência de combustíveis fósseis ainda é significativa, representando 47% da matriz energética. Essa discrepância revela a necessidade urgente de diversificação e transição para fontes ainda mais limpas.
A conexão entre a matriz energética brasileira e ESG
O alinhamento da matriz energética brasileira aos critérios ESG é uma demanda urgente. Investidores e consumidores estão cada vez mais atentos às práticas de sustentabilidade e ética corporativa, o que torna o ESG uma questão estratégica para empresas e governos.
O que é ESG e por que isso importa?
ESG é uma sigla para Environmental, Social, and Governance (Ambiental, Social e Governança). Esses critérios são utilizados para avaliar o impacto das operações de empresas e governos em aspectos fundamentais para a sociedade. No contexto energético, o ESG é usado para parametrizar os elementos abaixo.
- Ambiental: o impacto das fontes de energia no meio ambiente, tais como emissões de gases de efeito estufa e uso de recursos naturais.
- Social: o acesso igualitário à energia e os impactos sociais das operações energéticas.
- Governança: transparência, ética e conformidade regulatória no setor.
A conexão entre ESG e a matriz energética brasileira é clara: à medida que o país avança na transição energética, é necessário garantir que esses avanços promovam uma sociedade mais sustentável e inclusiva.
Desafios da matriz energética brasileira sob a ótica ESG
Apesar dos avanços, o Brasil ainda enfrenta desafios significativos para alinhar a matriz energética aos critérios ESG. Esses obstáculos variam desde a dependência de fontes fósseis até questões de governança e acesso desigual à energia.
Dependência de fontes fósseis
Embora as fontes renováveis sejam predominantes na geração elétrica, o uso de combustíveis fósseis, tais como petróleo e gás natural, ainda é expressivo no transporte e na indústria. Essa dependência gera emissões significativas de carbono, prejudicando os compromissos ambientais assumidos no Acordo de Paris.
Impactos ambientais das hidrelétricas
Embora as hidrelétricas sejam uma fonte renovável, elas não estão livres de críticas. Grandes projetos, como Belo Monte, têm causado impactos ambientais severos, incluindo desmatamento, alteração de ecossistemas e deslocamento de populações indígenas e ribeirinhas.
Falhas na governança energética
A falta de clareza e eficiência na governança também é um entrave. Subsídios mal direcionados, burocracias no licenciamento ambiental e mudanças frequentes nas políticas públicas criam um ambiente de incerteza para investimentos no setor.
Acesso desigual à energia
Apesar dos avanços tecnológicos, ainda há domicílios brasileiros que vivem sem acesso à eletricidade, o que leva à discussão do conceito de pobreza energética. Esse dado é alarmante, considerando o potencial energético do Brasil.
O que precisa mudar na matriz energética brasileira?
Para que o Brasil atinja um modelo energético alinhado aos critérios ESG, mudanças profundas e estruturais são necessárias, abrangendo todos os aspectos da cadeia energética.
1. Diversificação da matriz energética
Ampliar a participação de fontes como solar, eólica e biomassa é fundamental. Atualmente, essas fontes representam cerca de 12% da matriz elétrica, mas têm potencial para crescer significativamente.
Incentivos à energia solar e eólica
O Brasil tem um dos maiores potenciais solares e eólicos do mundo, especialmente nas regiões Nordeste e Sudeste. Programas de incentivo fiscal e linhas de crédito acessíveis para pequenos e médios produtores de energia renovável podem acelerar essa transição.
2. Investimentos em eficiência energética
A eficiência energética é uma estratégia muitas vezes negligenciada, mas extremamente eficaz. Substituir equipamentos antigos por tecnologias mais eficientes e promover campanhas de conscientização sobre o uso racional da energia podem reduzir a demanda por combustíveis fósseis.
3. Expansão dos biocombustíveis
O Brasil já é líder na produção de etanol e biodiesel, mas precisa diversificar e ampliar a produção. Investimentos em biocombustíveis de segunda geração, feitos a partir de resíduos agrícolas, podem fortalecer o setor e reduzir as emissões no transporte.
4. Garantir inclusão social no acesso à energia
O acesso universal à energia é uma questão de justiça social. Programas como a instalação de sistemas solares off-grid em comunidades isoladas melhoram a qualidade de vida de milhões de brasileiros.
5. Fortalecer a governança energética
Para atrair investimentos e garantir transparência, é fundamental criar um ambiente regulatório estável e eficiente. Isso inclui simplificar o licenciamento ambiental, oferecer incentivos claros às energias renováveis e monitorar rigorosamente o cumprimento das metas climáticas.
O futuro da matriz energética brasileira
Alinhar a matriz energética brasileira aos princípios ESG é uma necessidade urgente e estratégica. Com sua vasta riqueza de recursos naturais, o Brasil tem todas as condições para liderar a transição energética global. No entanto, isso requer esforço conjunto entre governo, setor privado e sociedade civil.
Adotar uma matriz mais limpa e eficiente contribuirá para mitigar as mudanças climáticas, fortalecerá a economia, atrairá investimentos e promoverá inclusão social. O futuro do Brasil como potência energética sustentável depende das escolhas feitas hoje.
Conclusão
A matriz energética brasileira, apesar de suas qualidades renováveis, ainda enfrenta desafios importantes para atender aos critérios ESG. A dependência de combustíveis fósseis, os impactos ambientais das hidrelétricas e a desigualdade no acesso à energia são entraves que comprometem o potencial do Brasil como líder em sustentabilidade energética.
O Brasil pode expandir a participação de fontes como solar e eólica, investir em biocombustíveis avançados e promover eficiência energética para reduzir a pegada de carbono. Paralelamente, a inclusão social no acesso à energia e o fortalecimento da governança são elementos-chave para uma matriz que beneficie toda a população e atraia investimentos sustentáveis.
Portanto, o futuro da matriz energética brasileira está diretamente ligado às escolhas feitas no presente. Com recursos naturais abundantes e um mercado receptivo a soluções inovadoras, o país tem a chance de se consolidar como referência global em energia sustentável, equilibrando preservação ambiental, desenvolvimento social e progresso econômico.
A transição energética é fundamental para os pactos assumidos na Agenda 2030 de desenvolvimento sustentável. Saiba mais sobre isso.