Já imaginou um modelo de negócio que, desde sua origem, já carregue no DNA a preocupação com as pessoas e com o planeta? Esse modelo existe, se chama cooperativismo e é muito popular e essencial para as cadeias econômicas de muitos países.
Com milhões de cooperativas ao redor do mundo, essa abordagem econômica e social continua crescendo e se destacando e se aproxima muito aos princípios ESG (Environmental, Social, and Governance). As cooperativas se diferenciam das empresas tradicionais devido ao seu modelo de operação que tem como base a colaboração e o benefício coletivo, não são focando somente em lucrar.
Isso significa que, além de gerar desenvolvimento econômico, elas também promovem alguns pontos importantes como a inclusão social e as práticas ambientais responsáveis.
Assim, o impacto desse modelo é significativo: segundo estimativa da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), existem cerca de 3 milhões de cooperativas no mundo, impactando diretamente a vida de mais de um bilhão de pessoas.
Neste artigo, exploramos como o cooperativismo impulsiona práticas sustentáveis e socialmente responsáveis, com exemplos reais que demonstram seu impacto positivo.
O que é ESG?
ESG é a sigla para Environmental, Social e Governance, ou seja, práticas ambientais, sociais e de governança (ASG) adotadas para promover negócios mais sustentáveis e éticos perante a sociedade. Partindo disso, as iniciativas seguem alguns comportamentos:
- No pilar ambiental (E), incluem-se iniciativas para reduzir impactos ambientais, como o uso de energias renováveis e a redução de emissões de carbono;
- No social (S), destaca-se a inclusão e o compromisso com a comunidade, como a geração de empregos e a equidade de oportunidades;
- Já em governança (G) envolve transparência, ética e responsabilidade na gestão.
Qual sua importância?
Com tantos cenários caóticos se desenhando ao redor dos três pilares da sigla, empresas que investem em ESG tendem a ter melhor desempenho financeiro e maior credibilidade no mercado, atraindo investidores e consumidores conscientes. Afinal, manter-se e se demonstrar atento às mudanças no mundo é um ponto positivos para o crescimento das empresas.
E é aqui que as cooperativas se destacam naturalmente. Como elas já possuem um sistema de operação que já funciona de maneira coletiva e democrática, suas práticas muitas vezes já estão alinhadas com os princípios ESG, tornando-as partes cruciais da propagação do movimento.
Cooperativas e o pilar ambiental (E)
As cooperativas, em sua maioria, possuem uma relação intrínseca com a sustentabilidade desde o seu surgimento. Com base em seu modelo de gestão compartilhada e foco no longo prazo, favorecem práticas ecológicas, promovendo mais otimização e benefícios para aqueles que estão envolvidos com ela.
No Brasil, o mais comum é notar que cooperativas agrícolas adotam técnicas sustentáveis, reduzindo emissões de carbono e otimizando o uso de recursos naturais. Um exemplo é o uso da agroecologia, que elimina agrotóxicos e promove a regeneração do solo.
Sustentabilidade, economia circular e reciclagem
Além disso, cooperativas de reciclagem desempenham um papel essencial na expansão da economia circular. Em muitas cidades brasileiras, catadores organizados em cooperativas transformam resíduos em novos produtos, reduzindo a poluição e criando oportunidades de emprego para pessoas em situação de vulnerabilidade, causando impacto ambiental e social.
Já no setor de energia, cooperativas solares e eólicas democratizam o acesso a fontes limpas, permitindo que pequenos produtores e comunidades inteiras gerem sua própria eletricidade sustentável.
Na Europa, por exemplo, cooperativas agrícolas investem em biotecnologia para reduzir desperdícios e aumentar a eficiência na produção de alimentos, trazendo benefícios econômicos e ambientais.
Cooperativas e o pilar social (S)
Como pontuado acima, a base do cooperativismo está na inclusão de pessoas em vulnerabilidade, igualdade e solidariedade, tornando-o naturalmente alinhado ao pilar social do ESG. Este é um ponto que se difere de empresas tradicionais, onde a busca pelo lucro pode possuir um foco mair do que os princípios pontuados. Afinal, as cooperativas priorizam, principalmente, o impacto positivo nas comunidades onde atuam.
Impacto social-financeiro
Em diversos países, cooperativas financeiras e de crédito ampliam o acesso a serviços bancários para populações que, de outra forma, estariam excluídas do sistema financeiro. O que não é diferente no Brasil, segundo dados do Banco Central (BC) “O número de cooperados, que são, ao mesmo tempo, donos e clientes das cooperativas de crédito, chega a 17,3 milhões entre pessoas físicas e jurídicas”.
Esse acesso facilita a criação de pequenos negócios, impulsionando a economia local e melhorando a qualidade de vida da população.
Geração de empregos
Além disso, cooperativas promovem a geração de empregos e o desenvolvimento local, o que em comunidades rurais é um forte fator, visto que cooperativas agrícolas ajudam pequenos produtores a se organizarem, acessarem melhores mercados e obterem preços justos por seus produtos. Por outro lado, no setor de saúde, cooperativas médicas garantem serviços acessíveis e de qualidade para milhares de pessoas.
Cooperativas e o pilar de governança (G)
A governança cooperativa é um destaque, pois se baseia em transparência, participação democrática e responsabilidade. Diferente de empresas convencionais, onde as decisões são, geralmente, tomadas por acionistas majoritários, nas cooperativas cada membro tem direito a voto, garantindo uma gestão mais equilibrada e ética.
Empresas que seguem padrões ESG precisam adotar governança responsável, mas as cooperativas já nascem com esse princípio estruturado. Como resultado do bom sistema de governança, muitas cooperativas conseguem acessar mercados internacionais e conquistar a confiança de investidores e consumidores.
Desafios e oportunidades para cooperativas no ESG
Apesar dos inúmeros benefícios, as cooperativas enfrentam desafios para se destacar no cenário ESG, tais desafios permeiam pontos como:
- Falta de visibilidade de suas ações: muitas iniciativas sustentáveis e sociais promovidas por cooperativas não são amplamente divulgadas, dificultando o reconhecimento e o acesso a investimentos ESG.
- Necessidade de modernização: algumas cooperativas ainda operam com modelos tradicionais de gestão e precisam investir em tecnologia e inovação para aumentar sua competitividade. Por isso, pensar e se planejar para a adoção de certificações ESG e a implementação de métricas para mensurar impacto podem ser diferenciais estratégicos.
Por outro lado, há muitas oportunidades, tais como o crescimento da demanda por negócios sustentáveis abre espaço para que cooperativas se consolidem como referência nesse movimento. Além disso, parcerias estratégicas com grandes empresas, startups e órgãos governamentais podem ampliar seu impacto e fortalecer sua presença no mercado.
Cooperativas como pioneiras do ESG
O cooperativismo prova que é possível construir negócios bem-sucedidos sem abrir mão da sustentabilidade, da gestão transparente e da responsabilidade social.
Com um modelo baseado em equidade e transparência, as cooperativas são exemplos reais de como o ESG pode ser aplicado na prática em empresas que funcionam e geram ganhos.
Porém, o desafio é claro, para seguir avançando é essencial que elas invistam em inovação e comunicação, destacando ainda mais seu impacto. Afinal, o futuro pertence a quem une propósito e prática, e as cooperativas têm todas as ferramentas para liderar essa transformação.